Baya

O azul que eu vejo é o azul que você vê?

Não.

E vou além: se pegarmos qualquer imagem, vamos ver coisas diferentes.

A visão não é uma representação completamente fiel da realidade física. Até mesmo quando enxergamos elementos básicos como cores ou tamanhos, há margem para interpretação do nosso cérebro.

Um exemplo são as ilusões de ótica. Uma mesma cor pode ser interpretada de duas formas diferentes a depender do contexto, e uma mesma linha pode parecer maior ou menor.

Então se uma mesma pessoa pode ver o mesmo azul de formas diferentes dependendo do contexto, quem dirá pessoas diferentes, que viveram em contextos diferentes.

O azul pra mim é acima de tudo o céu das longas viagens de estrada, mas também o mar de Paraty, ou talvez o uniforme da Aeronáutica.

Mas com certeza você teve outras experiências, outras associações, outras interpretações. O azul pra você vai ser outro céu, outro mar, ou talvez um rio, ou então um olho, um quadro.

E para piorar ainda mais, nossa fisiologia é diferente. A cor é detectada por cones que estão associados a uma faixa de frequência. E os cones, sendo estrutura biológica, são únicos. Assim como não existe uma mão igual a outra, o meu cone não é igual ao seu.

Algumas pessoas possuem cones que estão associados a frequências tão parecidas que não conseguem distinguir entre o verde e o vermelho, por exemplo. Mesmo sem ir para esse extremo, pode ser que o seu cone do azul esteja associado com frequências muito diferentes do cone que detecta verde, e que os meus cones estejam associados a frequências mais parecidas. Então para mim o azul seria mais esverdeado e o verde mais azulado, enquanto você conseguiria ver as cores mais puras.

Ou seja, o próprio sinal físico que nosso cérebro recebe pra começo de conversa já é diferente, pra ele ainda interpretar cada um a sua maneira.

Mas se o azul que enxergamos é diferente, como conseguimos usá-lo da mesma forma, e às vezes fazer até as mesmas conexões?

Essa é a magia da comunicação humana. A minha tristeza não é a mesma tristeza que a sua. Mas se eu digo que estou triste, você entende o que eu estou falando.

O azul, por mais concreto que pareça, continua sendo uma experiência interna e única.

Mas como humanos, mesmo com tanta diferença, temos tanto em comum que conseguimos nos comunicar e fazer até as mesmas associações. Assim como tristeza tem a ver com solidão, azul tem a ver com mar, com céu, com calma.

E mesmo sem saber exatamente o que a outra pessoa vê, conseguimos enxergar algo em comum. Sem pensar que estamos vendo duas cores completamente diferentes. Como se fosse natural eu ver uma coisa e você outra, e a gente chamar do mesmo nome.